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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

"Elis" - Elis Regina (EMI - 1980)



Somente as arrepiantes versões a capella de O Trem Azul e Se Eu Quiser Falar com Deus - que reafirmam a categoria ímpar do canto de Elis Regina Carvalho Costa (1945 - 1982) - já seriam suficientes para tornar realmente especial esta reedição de Elis, álbum de 1980, o derradeiro da cantora. Mas há todo um cuidado na embalagem (em formato de DVD, com bonito encarte com fotos e letras) que faz com que a presente reedição da Trama supere, e muito, a produzida pela EMI em 2002, apesar das faixas-bônus que a EMI inseriu no CD com registros de gravações da Pimentinha em álbuns de colegas. Vale (até!) comprar de novo.

Elis foi o trabalho mais pop da cantora e, talvez por isso, resista bem ao tempo, ainda que seu repertório não seja tão irretocável quanto o de outros discos da artista. Elis estava cantando como nunca. Mais solta, menos carregada. Mais livre, menos presa aos cânones da MPB tradicional. Houve discos melhores e muito mais importantes nos anos 70, mas vale a pena reouvir Elis e constatar a grandeza da cantora. Seu mergulho pop pede uma reavaliação...

Às nove faixas originais, a Trama acrescentou Se Eu Quiser Falar com Deus (gravada para o álbum, mas excluída na última hora porque o autor Gilberto Gil ia registrar a música em seu próximo disco), os já citados registros a capella e versões instrumentais de Vento de Maio,Calcanhar de Aquiles e Só Deus É Quem Sabe (a canção de Guilherme Arantes que Mart'nália reviveu em seu disco Menino do Rio). As faixas instrumentais evidenciam os arranjos.

Outro bônus valoriza ainda mais a luxuosa reedição. Trata-se de de DVD com a entrevista concedida pela cantora em janeiro de 1982, dias antes de morrer, ao programa Jogo da Verdade, da TV Cultura. "A gente faz parte de um grande teatro", avisou Elis no início do papo mediado por Salomão Ésper com intervenções dos jornalistas Maurício Krubusly e Zuza Homem de Mello. Nem por isso, a ardida Pimentadeixou de expor as suas verdades em cena.

O alvo principal foi a indústria fonográfica. Na época, a cantora vivia entrando e saindo de gravadora. Fez dois discos na Warner entre 1979 e 1980, ano em que assinou com a EMI para gravar Elis. E planejava lançar pela Som Livre o LP que não teve tempo de fazer. "Hoje ficou mais difícil fazer um disco. A prepotência ganhou o nome de marketing. Não existe preocupação com a criatividade. A verdadeira mercadoria da gravadora é o artista, mas parece que há uma certa relutância em aceitar isso", disparou.

Contratidória, a Pimentinha incluiu o próprio nome no seleto time que gozava de alguma autonomia artística no mercado fonográfico da época para logo em seguida lamentar o limite dessa autonomia. "A gente já não tem a liberdade que tinha antes", reclamou. Entre elogios a Arrigo Barnabé (a grande novidade da música brasileira antes da explosão do rock), à geração de cantores e compositores dos anos 60 ("Tem muito pastel e feira, mas feijoada mesmo fomos nós que fizemos") e reclamações contra o alto preço do disco (mil cruzeiros, na ocasião), Elis Regina solta o verbo com a sinceridade e a intensa paixão que caracterizaram uma obra exemplar. É dez!!


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