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domingo, 24 de maio de 2015

Encerramento da Rede Manchete (10/05/1999)



Encerramento e Curiosidades : Já no início de 1999, a direção do Grupo Bloch, na figura de Pedro Jacques Kappeller e Jacqueline Kappeller, anunciam a parceria com o Grupo Renascer em Cristo para reestruturar a programação e salvar a emissora. O aparente sucesso inicial da parceria deu lugar a um grande fracasso, com polêmicas e calote por parte da Igreja. Com a situação totalmente fora de controle, a TV Ômega de Amílcare Dallevo, presente na programação da emissora, tramitou com o Grupo Bloch o processo de compra da rede e se comprometeu a regularizar toda a sua situação, desde a saudação das dívidas até o pagamento de salários atrasados. Era o fim da Rede Manchete de Televisão.
Em 10 de maio de 1999 a emissora transmitia pela última vez como Rede Manchete. A vinheta de explosão espacial com o M dourado era exibida pela última vez. No lugar da rede, entra a TV!, emissora de transição, sob administração da TV Ômega e utilizando os recursos da Manchete.
Alguns meses depois, em novembro, a fase de transição termina e a Rede Manchete encerra definitivamente as suas operações e dá lugar à RedeTV!, de Amílcare.
Ironicamente, a emissora não conseguiu chegar aos anos 2000, do qual tanto falou em seu início (seu slogan era "A televisão do ano 2000" em 1983).
Até hoje o empresário Amílcare não saudou totalmente as dívidas da antiga emissora, principalmente no que se refere aos salários atrasados e de funcionários que recebiam mais de R$5 mil. Por coincidência, sua emissora sofreu grave crise, com as mesmas características da sofrida pela Manchete.
A Manchete planejou colocar um programa infantil de duas horas apoiado em personagens de Maurício de Souza e num palhaço chamado Pac, um rapaz do interior. Até se cumprir qualquer um dos projetos, a emissora, comprou os 27 novos personagens de Hanna Barbera, que foram exibidos na manhã seguinte da inauguração.29 Entrava no ar o Clube da Criança, revelando a apresentadora infantil, modelo e manequim Xuxa. Houve naquela época uma grande polêmica sobre a apresentadora, que posou nua em várias revistas masculinas, a última poucos meses antes de estrear como apresentadora infantil. Xuxa permaneceria à frente da atração até ser contratada pela Rede Globo três anos mais tarde.
Em 1985, o único destaque da emissora é a estréia da ex-modelo Xuxa, que ficou famosa por aparecer nua na capa da revista masculina Playboy no começo da década de 80 e namorar o ex-jogador Pelé. Xuxa logo cativou a audiência infantil e obteve destaque no comando do “Clube da Criança”, que estreou em janeiro.
No ano de 1986, a Rede Manchete já acumula, segundo o site Rede Manchete – Qualidade em primeiro lugar, um prejuízo, desde a estréia, de US$ 80 milhões e uma dívida de US$ 23 milhões.
A emissora enfrentou sua primeira greve os funcionários em setembro de 1986, quando pararam em virtude de salários atrasados. Xuxa, que alcançava excelente audiência, deixou o canal no começo do ano e foi para a Rede Globo apresentar o “Xou da Xuxa”. Ainda em 1986, duas atrações contribuíram para o aumento da crise financeira: a transmissão da Copa do Mundo de 1986, no México e a novela “Dona Beija”, uma produção que custou mais de US$ 2 milhões. Com cenas de nudez de Maitê Proença, a novela fez grande audiência – cerca de 15 pontos diários, especialmente entre o público masculino, mas também deu prejuízo.
A primeira grande demissão da emissora, segundo o site Rede Manchete – Qualidade em primeiro lugar, aconteceu em julho de 1987, quando a linha de shows da emissora, composta por musicais e humorísticos, foi completamente desativada e cerca de cem funcionários foram demitidos.
Com dívidas, em 1988 Adolpho Bloch começa a cogitar a venda da emissora. O saldo devedor beirava a casa dos US$ 34 milhões, quase dobrando em apenas dois anos. Um prejuízo de acumulava atrás do outro. Bloch precisou pedir ajuda política para evitar a falência da emissora.
De acordo com Conti (1999), o governador de São Paulo a partir de 1987, Orestes Quércia, foi procurado por um preocupado Adolpho Bloch.
“Pouco depois de tomar posse no governo paulista, Orestes Quércia foi procurado por Adolpho Bloch e seu sobrinho Pedro Jack Kapeller, o Jaquito. O dono da Rede Manchete desfiou um rosário de lamentações. Reclamou das dificuldades da emissora, das dívidas, do aperto dos credores, das concorrentes, da ausência de anunciantes. Contou como fugiu da Rússia, o tanto que trabalhou, como gostava de gráficas e que a televisão o estava levando á loucura”. (Conti,1999, p.512).
Quércia, segundo Conti, disse que ajudaria Bloch não pelo auxílio recebido durante sua campanha, pois, segundo o governador, a emissora ajudara Paulo Maluf, mas sim por causa da maneira como Bloch preservava a memória do ex-presidente Juscelino Kubstichek. Orestes Quércia auxiliou a Rede Manchete, através da compra de um grande pacote de anúncios e pagando antecipadamente.
“A ajuda de Orestes Quércia a Bloch consistiu em colocar anúncios do governo a granel na Rede Manchete, tomando o cuidado de não melindrar os concorrentes, a começar pela Globo. Fazia o pagamento da propaganda antes de ela ser veiculada”. (Conti,1999, p.514).
Bloch, empolgado, quis vender a Rede Manchete para Orestes Quércia, que é empresário do setor das comunicações – possuía até o final dos anos 90 os jornais Diário Popular, em São Paulo, e Diário do Povo, em Campinas, e ainda é proprietário de emissora de televisão em Campinas. Quércia disse que não poderia fazer negócios enquanto fosse governador. Conti ainda destaca:
“Ao sair do governo, ele disse a Bloch que queria comprar a emissora da Manchete em São Paulo. O empresário aceitou, com a condição de que se continuasse a transmitir a programação da rede. Acertaram o preço: 28 milhões de dólares, à vista. O peemedebista não tinha todo o dinheiro. Mandou um emissário falar com Antônio Ermírio de Moraes, que não manifestou interesse pelo negócio. Conversou com empreiteiras e procurou Roberto Civita. “Acho bom que a emissora fique com um grupo paulista, para que o estado tenha uma alternativa à Globo”, sugeriu Quércia ao dono da Abril. Civita disse que deveria ser feita uma avaliação da emissora, dos seus débitos, e depois precisariam procurar bancos, para obter financiamentos. “Esse negócio tem que ser feito por você e pelo Adolpho, um olhando no olho do outro”. Civita não gostou do estilo de negociar do governador e saiu da transição. Quércia não conseguiu articular um grupo para comprar a Manchete e abandonou o projeto”. (Conti,1999, p.514-515).
Com a desistência de Orestes Quércia, Adolpho Bloch continuou com a Rede Manchete, tomando um prejuízo atrás do outro. Mesmo com um rombo milionário, Bloch investiu muito dinheiro na reabertura da linha de shows da emissora e torrou US$ 25 milhões na sede paulistana da emissora, inaugurada em janeiro de 1990, conforme registrou o jornal O Estado de S. Paulo.

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